quarta-feira, 27 de maio de 2009

Só podia ser dele

Casal é Tudo Igual...


Ele: - Alo?
Ela: - Pronto.
Ele: - Voz estranha... Gripada?
Ela: - Faringite.
Ele: -
Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra
badalar.

Ela: - E se estivesse? Algum problema?
Ele: - Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre.
Ela: - E você? Sua voz também está diferente. Faringite?
Ele : - Constipado.
Ela: - Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida.
Ele: - A gente aprende.
Ela: - Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa.
Ele: - Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: - Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que
quis.
Ele : - Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando agente
se casou.
Ela: - Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas
com as amigas.
Ele: - Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela,
passear no shopping, comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas
durante horas....
Silêncio.
Ela: - Comprar jóias?
De onde você tirou essa idéia? A única coisa
que
comprei em quinze anos de casamento foi um par de brincos.
Ele: - Quinze anos? Pensei que fosse bem menos.
Ela: - A memória dos homens é um caso de polícia!
Ele: - Mas conversar com as amigas no telefone...
Ela: - Solidão, meu caro, cansaço... Trabalhar fora, cuidar das
* * crianças
e ainda preparar o jantar para o HERÓI que chega à noite...
Convenhamos, não chega a ser uma roda-gigante de emoções...
Ele: - Você nunca reclamou disso.
Ela: - E você me perguntou alguma vez?
Ele: - Lá vem você de novo... As poucas coisas que eu achava que
estavam certas... Isso também era errado!?
Ela: - Evidente, a gente não conversava nunca...
Ele: - Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um
passe e as mulheres não reclamam. *
*
Depois, dizem que faltou diálogo. As mulheres são de Marte.
Ela: - E vocês são de Saturno!
Silêncio...
Ele: - E aí, como vai a vida?
Ela: - Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra me dizer
o que devo fazer.
Ele: - E isso é bom?
Ela: - Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de
enlouquecer qualquer uma.
Ele: - Eu nunca fui autoritário!
Ela: - Também nunca foi compreensivo!
Ele: - Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas
limitações como qualquer mortal..
Ela: - Limitado e omisso como qualquer mortal.
Ele: - Você nunca foi irônica.
Ela: - Isso a gente aprende também.
Ele: - Eu sempre te apoiei.
Ela: - Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que
você lavou a única louça da tua vida. Um apoio inestimável... Sinceramente,
eu não sei o que faria sem você? Ou você acha que fazer vinte caipirinhas
numa tarde para um bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do Mundo
era realmente o meu grande objetivo na vida?
Ele: - Do que você está falando?
Ela: - Ah, não lembra?
Ele: - Ana, eu detesto futebol.
Ela: - Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco?
Ele: - Alexandre? Meu nome é Ronaldo!
...Silêncio...
Ele: -
De onde está falando?
Ela: - 578 9922
Ele: - Não é o 579 9222 ?
Ela: - Não.
Ele: - Ah, desculpe, foi engano.

Luiz Fernando Veríssimo

Um comentário: